quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Redes Corruptas

Redes Corruptas
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O político sorri
escreve no twitter
e recebe sem trabalhar.

O atleta comemora
dá entrevista no jornal da tarde
e se anaboliza na droga da noite.

O polícial celebra o dever
se anúncia salvador guardião do povo
e toma chopp com traficante do polvo.

O moleque da rua corre no chafariz feliz
se vive da ausência do sem viver
e toma cola crack do não viver.

A rede se torna corrupta pela ausencia
decadência podre da base da pirâmide anti-social.

E o velho na praça não está nem aí:
não se muda o mundo,
mudam-se os sonhos.

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Leonardo Molinari

Corrosão Poética

Corrosão Poética
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O poema do poeta que escreve se exaltava indo além
de si mesmo.

O poema do poeta escreve exalta indo
de si.

O poema do poeta exalta
si.

O poeta (sem poema) exalta
si
na solidão.

O si ficou só
e o poeta se perdeu no meio do caminho de sua vida
porque esqueceu de como rir e amar.

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Leonardo Molinari

A saga de dois cegos

A saga de dois cegos
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Eu pegando elevador
ela iluminando o ambiente.

Ela de vestido longo
eu de óculos escondendo meu pensamento.

Eu saltei
ela ficou.

Seu sorriso era lindo,
porém o mais estava na lindeza
pureza de olhar.

Ela estava na festa feliz
eu estava cansado do trabalho
do trabalho de olhar pra ela.

Seus cabelos longos não negavam o sorriso
sorriso de quem queria amar alguém desesperadamante
sonho de quem apenas sonhava
sonho de ausência de amar.

Ela sorria brincava cantava bebia
ela fugia de si mesma sem saber
eu fugia meu olhar atras do olhar dela.

Ela não via minha timidez
eu não via nada a não ser ela.

Ela fugia
eu andava
sonhava.

A festa acabou e a vida continuou,
trabalho
casa
trabalho
até quando tiver de ser.

Quando a encontrei de novo,
ela viu algo que não via,
mas não dizia.

Apenas sorria.

Quando a encontrei faltava algo,
algo que lhe fora tirado,
cuja esperança não sabia dizer.

O seu olhar eu não via,
mas o coração falou por mim
sem nada dizer.

Silêncio se fez com palavras que queriam dizer
dizer que nada diziam
pelo medo de dois cegos de viver.

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Leonardo Molinari